No ecossistema SaaS, poucas métricas são tão conhecidas — e, ao mesmo tempo, tão mal interpretadas — quanto o LTV/CAC. Essa razão entre o Lifetime Value (LTV) de um cliente e o Customer Acquisition Cost (CAC) já foi considerada a “métrica suprema” para investidores, e embora o debate tenha se sofisticado com o avanço de indicadores como NRR e Magic Number, ela continua sendo um pilar fundamental para avaliar sustentabilidade e valuation.
O cálculo parece simples: LTV ÷ CAC. Se o resultado é 3, significa que cada dólar gasto para adquirir um cliente gera três dólares de receita bruta ao longo do tempo. Investidores tradicionalmente buscam uma razão de 3:1 como “ponto de ouro”.
Fonte: https://www.saas-capital.com/blog/ltv-cac-ratio/
Mas, na prática, o LTV/CAC esconde nuances. Ele depende de margens, churn, ticket médio e do próprio ciclo de vendas. Startups early stage podem inflar o LTV projetando vida útil longa demais, enquanto empresas em growth podem subestimar o CAC por não incluir custos indiretos.
Por que LTV/CAC ainda importa em 2025
Segundo a OpenView Partners, LTV/CAC continua sendo observado em due diligence porque equilibra curto e longo prazo: CAC mostra o custo imediato, LTV mostra a visão de retorno futuro.
Fonte: https://openviewpartners.com/blog/saas-metrics-that-matter/
-
Razão alta demais (>5) pode indicar subinvestimento em crescimento.
-
Razão baixa (<2) sugere que a empresa não gera retorno suficiente para justificar expansão.
-
O equilíbrio (3:1) segue sendo benchmark aceito no mercado.
Em rodadas de venture capital, investidores costumam cruzar LTV/CAC com NRR. Por exemplo, uma empresa com NRR de 120% e LTV/CAC de 4 é vista como altamente escalável; já uma com NRR de 80% e LTV/CAC de 2 dificilmente justifica múltiplos premium.
Casos internacionais que ilustram o impacto
-
Salesforce: em seus relatórios de crescimento, sempre destacou payback de CAC abaixo de 18 meses, sustentando LTV/CAC elevado.
Fonte: https://investor.salesforce.com/ -
Slack: antes de ser adquirida pela Salesforce, tinha CAC relativamente alto, mas conseguia LTV forte via expansão massiva em clientes corporativos (NRR > 130%).
Fonte: https://www.sec.gov/Archives/edgar/data/1764925/000119312519021583/d666947ds1.htm -
Zoom: durante o boom da pandemia, o LTV disparou, mas à medida que churn aumentou, o ratio caiu — mostrando como o LTV/CAC pode oscilar drasticamente em cenários de uso temporário.
Fonte: https://investors.zoom.us/
Limitações do LTV/CAC
-
Pode inflar expectativas se o churn não for bem medido.
-
Nem sempre captura upsell e cross-sell de forma realista.
-
É menos “em tempo real” que métricas como NRR e Magic Number.
Por isso, investidores hoje não olham o LTV/CAC isolado, mas sim como parte do “tripé de sustentabilidade”:
-
NRR = retenção e expansão.
-
Magic Number = eficiência de vendas.
-
LTV/CAC = retorno de longo prazo sobre aquisição.
Conclusão: o velho clássico ainda manda
Apesar da sofisticação das métricas SaaS, o LTV/CAC segue sendo uma das primeiras contas feitas em due diligence. Ele mostra se o negócio equilibra aquisição e valor de longo prazo, e continua sendo usado como filtro inicial por fundos e compradores.
Se NRR e Magic Number são as métricas que mostram vitalidade atual, o LTV/CAC é o lembrete de que crescimento só vale a pena se for sustentável. E em 2025, essa combinação continua sendo a chave para atrair capital e justificar múltiplos de valuation.
Fontes adicionais
-
SaaS Capital – LTV/CAC benchmarks: https://www.saas-capital.com/blog/ltv-cac-ratio/
-
OpenView Partners – SaaS Metrics: https://openviewpartners.com/blog/saas-metrics-that-matter/
-
Salesforce Investors: https://investor.salesforce.com/
-
Slack S-1 (SEC Filing): https://www.sec.gov/Archives/edgar/data/1764925/000119312519021583/d666947ds1.htm
-
Zoom Investors: https://investors.zoom.us/